Todos os anos, milhões de homens, mulheres e crianças ao redor do mundo são vítimas de tráfico humano ─ compradas e vendidas como mercadorias para a prostituição e o trabalho escravo.

 

Trata-se de um comércio que gera altos dividendos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que o trabalho escravo movimente US$ 150 bilhões (R$ 504 bilhões) por ano. Dois terços disso (US$ 99 bilhões ou R$ 333 bilhões) vêm da exploração sexual.

Mas quem são as pessoas por trás dos números? Kemi e Bilkisu, da Nigéria, Jane, do Reino Unido, e Gabby, dos Estados Unidos, contam à BBC como se tornaram vítimas dos traficantes.

Kemi, da Nigéria

Milhares de mulheres do oeste da África são compradas e vendidas todos os anos ─ a maioria delas acaba na Europa. O UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) estima que as vítimas do tráfico de pessoas na região ─ boa parte delas provenientes da Nigéria ─ corresponde a quase 10% das pessoas forçadas a se tornar trabalhadoras do sexo na Europa Ocidental.

Benin City, no sul da Nigéria, é uma cidade-chave nesse esquema – com redes e infraestrutura montadas em trono do tráfico de pessoas.

Lá, os traficantes buscam meninas que querem viajar e as seduzem com promessas de trabalho e estudo. Eles lhes dão documentos falsos e dizem que elas precisarão pagar o custo da viagem quando chegarem ao país de destino.

Uma vez recrutadas, as meninas muitas vezes são forçadas a participar de rituais para garantir que vão cumprir com o prometido.

Uma mulher que atua como negociante de pessoas em Benin City diz que traficantes costumam arrancar as roupas e até os cabelos das meninas. Pelos da região pubiana e das axilas também são raspados. Ao fim do processo, elas são entregues a um ‘padre’ em uma cerimônia como prova de que pagariam suas dívidas.

“Com todas essas coisas que eles tiravam delas, as meninas tinham medo de que alguma coisa pudesse acontecer”, conta Kemi.

Uma dessas meninas que foi vítima das mentiras dos traficantes é a própria Kemi. Ela recebeu a promessa de uma nova vida na Itália ─ onde poderia enviar dinheiro para ajudar sua família.

“Eles disseram: ‘Nós queremos mudar a sua vida. Queremos que você seja feliz”, relata.

Em sua chegada à Itália, Kemi soube que teria de trabalhar como prostituta. Ela se recusou, mas ficou sem comida e seu celular foi confiscado como punição – depois disso, se viu obrigada a obedecê-los.

“No final, eu trabalhei por três anos e três meses (como prostituta)”, diz.

Durante esse período, Kemi entregou um total de 27 mil euros (R$ 100 mil) a seus traficantes ─ uma quantia que não os deixou satisfeitos.

Depois de um tempo, ela finalmente encontrou forças para deixar o lugar onde vivia e fugiu rumo a casa de amigos. No entanto, acabou deportada pelas autoridades italianas e teve de voltar para a Nigéria algum tempo depois.

Sem nada para levar consigo de todo o tempo que passou fora de seu país, Kemi decidiu não voltar para a casa de sua família.

“Eu tinha vergonha de ir para casa”, conta, chorando. “Eu tinha vergonha de voltar sem nada.”

Agora, traumatizada por suas experiências, ela sente raiva dos traficantes. “Eles são maus. A mulher que me vendeu tinha duas filhas. Ela está colocando as duas nas melhores escolas com o dinheiro que ganhei vendendo o meu corpo.”

Bilkisu e Jane, Reino Unido

Centenas das vítimas do tráfico humano vindas da Nigéria acabam no Reino Unido, onde elas geralmente enfrentam exploração sexual ou uma vida de serviço doméstico forçado.

Cerca de 244 das 2 mil potenciais vítimas denunciadas às autoridades britânicas em 2014 vinham da Nigéria, segundo a Agência Nacional do Crime, um aumento de 31% comparado com o ano anterior. O único país com um número maior de potenciais vítimas é a Albânia. Leia matéria completa

*Matéria produzida pelos repórteres da BBC Sam Piranty, Jacky Martins, Lucy Rodgers, Dominic Bailey e Gerry Fletcher

Para denunciar o tráfico de pessoas no Brasil, contate o Núcleo de Assistência a Brasileiros, Divisão de Assistência Consular, pelos telefones (61) 3411-8803/ 8805/ 8808/ 8809/ 8817/ 9718/6456, ou ainda pelo e-mail: dac@mre.gov.br.

Fonte: BBC Brasil