Mulheres, muitas com doenças degenerativas, vivem em casas de repouso na Carolina do Norte e sofreram, além da violência física, com o descrédito da comunidade; acusado nega os crimes e recorrerá da sentença de 23 anos de prisão.
Elas contam que enfrentaram a dor do abuso sexual, narram a dificuldade de reviver aqueles momentos e denunciar o estupro e, como se o sofrimento não fosse suficiente, dizem que tiveram que encarar a descrença e o ceticismo de todos a sua volta.
São mulheres com idades entre 55 e 90 anos. A maioria sofre de doenças degenerativas como o Alzheimer e carrega o estigma de uma memória falha, muitas vezes embaralhada ou desconexa. Vivem em três casas de repouso de Waynesville, uma cidade de 10 mil habitantes na Carolina do Norte, nos Estados Unidos.
As denúncias surgiram a partir do desespero de uma senhora com dificuldades de locomoção, que depende de dois balões de oxigênio acoplados à cadeira de rodas para respirar. Só uma enfermeira levou seu depoimento a sério, em meio ao desinteresse de médicos e funcionários da clínica, e levou o caso à polícia local.
A idosa havia lhe narrado em detalhes uma noite em que o enfermeiro Luiz Gomez, de 58 anos, se ofereceu para ajudá-la a ir ao banheiro, trancou a porta assim que ela se aproximou do vaso, levantou sua camisola e a estuprou.
Os diretores do asilo não acreditavam nas duas. Familiares não foram avisados sobre o caso. A enfermeira chegou a ser demitida depois de enfrentar a chefia e levar a história para além das paredes controladas da clínica. A narrativa da vítima do estupro era interpretada como confusão mental, fruto dos medicamentos pesados que toma para controlar problemas crônicos no pulmão e no coração.
Mas a história encorajou outras mulheres a falar. E, na esteira da primeira denúncia, oito moradoras de clínicas geriátricas onde Gomez trabalhava decidiram romper o silêncio e acusaram o mesmo homem por uma série de abusos nos últimos dez anos.
O julgamento se estendeu por vários dias e, na semana passada, Gomes foi condenado a pelo menos 23 anos de prisão por acusações como estupro de vítimas indefesas. Ele afirma que é inocente e vai recorrer à decisão.
Julgamento
O trabalho de Gomez incluía principalmente acompanhar os momentos mais íntimos das pacientes, como idas ao banheiro, banhos e trocas de fraldas.
“Ele me disse que eu sou mentirosa, e eu disse: ‘não, eu não sou'”, afirmou a vítima que sofreu o abuso no banheiro durante o julgamento, que se prolongou durante toda a semana passada, segundo a rede americana CNN, que revelou os casos.
“Ele me fez sentir como se eu fosse um verme rastejando no chão”, disse a senhora, que também afirmou que o perdoa.
“Mesmo que o que tenha feito seja errado, a Bíblia diz que eu devo amar você, mesmo que você me tenha feito mal. E eu obedeço. Eu amo você, e rezo para que as outras aprendam a perdoá-lo e a amar você como eu. Que você vá em paz”, afirmou.
Joel Schechet, o advogado de defesa, disse que seu cliente é inocente. Mas prometeu que, se o júri o inocentasse, ele voltaria para a Guatemala, seu país de origem.
“Digo que, até hoje, meu cliente nunca cometeu nenhum ato inapropriado contra nenhuma destas pessoas que o acusam.”
De outro lado, o promotor de acusação insistiu que o enfermeiro se aproveitou da vulnerabilidade das pacientes.
“O que esse homem fez durante quase uma década foi atacar pacientes com Alzheimer porque elas têm a memória ruim e, muitas vezes não se lembram do que aconteceu, ou morrem cedo”, afirmou.
“Em 2016, Sua Excelência, ele cometeu o erro grave de machucar a mulher errada. Ela foi corajosa o suficiente para contar o que aconteceu e não se calou até que todos a pudessem ouvir. Graças a ela, hoje somos capazes de enfim levá-lo à prisão.”
Durante o julgamento, o promotor enumerou … Leia matéria completa.